29 de novembro de 2010

Tropa de Elite

A cobertura feita pela mídia, através de imagens espetaculares, mostra aos espectadores entusiasmados, em suas poltronas, que a polícia alida ao exército estão destruindo o narcotráfico. A Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão foram reintegrados. Policias são apresentados como heróis. Os jornais mostram, com exclusividade, uma piscina do subchefe do tráfico do Complexo do Alemão. Surpresa!? Esta informação é recente para todos? Os jornais dizem sobre o luxo da casa. Eletrodomésticos são luxo? Luxo comparado com a miséria dos moradores, em condições sub-humanas, no complexo Alemão.

Algumas perguntas. Os chefes do tráfico moram na favela? Ou pelo menos, no Rio de Janeiro? A perspectiva dos moradores da Vila Cruzeiro e do Complexo Alemão está sendo veiculada, na mídia? Os moradores, que antes eram reféns dos traficantes, se tornarão reféns da polícia? A milícia, parte integrante do narcotráfico, será combatida? A lavagem do dinheiro do narcotráfico será destruída? O dinheiro do narcotráfico será identificado? A matança de "bandidos", pela Polícia Militar, no Rio, que vem ocorrendo nas últimas décadas, vai acabar? Vão ser implantados políticas públicas de educação, saúde, trabalho, lazer e apoio às famílias, nas favelas?

As cenas dos jornais estão sendo entrelaçadas com a do filme, de ação: Tropa de Elite II, do diretor José Padilha. Um exemplo de como o episódio, no Rio, está sendo banalizado, é o jogo criado na internet, "Fuga da Vila Cruzeiro", criado pela Pindorama Games. São utilizadas as imagens, da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro, em direção ao Complexo do Alemão. A violência carioca também foi tema de um aplicativo criado, para o Facebook. A agência de design e publicidade KAUS lançou "War in Rio! Aliste-se!". Mas, ao contrário de "Fuga da Vila Cruzeiro", o internauta não atira em bandidos. O usuário é convidado a lutar contra a violência no Rio ao fazer o upload de uma foto própria e ficar uniformizado com a farda do Bope.

Desculpe Leitor, se faço tantas perguntas e não as respondo.

Deixo como ponto de partida, para as nossas reflexões, a entrevista do antropólogo, Luiz Eduardo Soares, no programa "Roda Viva", e a matéria sobre o morador da Vila Cruzeiro, Ronai Braga, no "Jornal Correio Brasiliense".




14 de novembro de 2010

The Doors

"Para alguns, Jim foi um poeta com a alma presa entre o céu e o inferno. Para outros, ele foi só mais um rockstar que decaiu e acabou queimado. Mas uma coisa é certa, você só pode se queimar, se estiver mexendo com fogo. Seu pai levou dez anos para dizer: meu filho tinha um gênio único que ele expressou sem medo."

O documentário "When you're strange: a film about The Doors" é dirigido por Tom DiCillo e narrado pelo ator Johnny Depp. O filme traz imagens inéditas do vocalista Jim Morrison e da banda The Doors em programas de televisão como o "The Ed Sullivan Show", em apresentações como a do festival inglês "The Isle of Wight" e do famoso concerto em Miami, Flórida, em que Jim Morrison foi preso por atentado ao pudor. Também há imagens feitas por um cinegrafista, amigo de Jim Morrison e do organista Ray Manzarek, dos tempos em que eles estudavam na UCLA (Universidade da Califórnia). Estas imagens foram capturadas em película de 35mm.

Jim Morrison, líder dos The Doors, era apaixonado por cinema e sempre carregava uma câmera para gravar seus momentos. A partir destes arquivos e de outras fontes, o cineasta Tom DiCillo montou o documentário "When You're Strange". Este foi visto pela primeira vez no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro de 2009. Na época, o filme era narrado pelo próprio diretor, que não agradou a plateia com sua fala monótona. Depois das críticas, DiCillo resolveu contratar o ator Johnny Depp para narrar o filme.

A banda The Doors surgiu em 1965. Vendeu mais de oitenta milhões de discos. E ainda vende mais de um milhão de discos por ano. Até hoje Mr. Mojo é objeto de admiração. Os fãs dos anos 60 e 70 o viram como uma figura carismática, inteligente, imprevisível, cujas performances eram teatrais: um teatro ritualístico que descortinava ideias de liberdade e temas sobre a morte, loucura, solidão e outros. Um dos seus encantos era emprestar beleza ao terrível - aquilo que amedronta e atrai simultaneamente.

O Xamã do rock refletiu criativamente sobre a sua arte e, ao memo tempo, espelhou traços da sua natureza. Suas imperfeições, seus medos, seu sofrimento e suas obsessões deram substância a sua arte."Vejo o papel do artista como o de um xamã ou bode expiatório. A pessoas projetam as suas fantasias nele e estas se materializam."

O Rimbaund do Rock engendrou uma forma de encenação no palco que ia além dos seus componentes: música, poesia, dança. " O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento dos sentidos." O Xamã do rock era um jovem que desejava romper os limites da vida. Quando conseguiu esta metamorfose, não sabia o que fazer. Assim como Rimbaund, O Rei Largato sempre procurou se transformar em outra pessoa e sonhava com o "The Other side". O nome que Jim deu a banda tem origem num verso do poeta William Blake: "Se as portas da percepção forem desobstruídas, todas as coisas surgiram diante do homem como verdadeiramente são, infinitas." Jim foi um homem solitário em busca de um paraíso perdido...

Gene Youngblood, no Los Angeles Free Press, resumiu a música da banda: "A música do The Doors é uma música de revolta. Ela fala da loucura que existe dentro de todos nós. É mais surreal do que psicodélica...Morrison é um anjo exterminador."

O poeta William Blake disse: "A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria...A prudência é uma velha, rica e feia solteirona cortejada pela incapacidade." Jim vivenciou estes versos. E morreu por abuso de si mesmo. O seu corpo e sua alma estavam cansados.

O jovem rebelde era excêntrico, almejava liberdade, mudanças, testar os limites da realidade. Seu destino era ser um pária social assim como Rimbaud, William Blake. "Enquanto você prefere chorar, eu prefiro voar ... Quando voltarmos eu te escrevo...Eu sou o Rei largato. Posso fazer o que quiser..."