15 de dezembro de 2010

Para você, leitor, do blog Realidade!

Feliz Natal!

Um próspero ano novo, com muita paz, saúde, amor, muitos sonhos e muitas realizações!

Que, em 2011, cada um de nós continue a fazer as nossas pequenas grandes revoluções, neste Mundo mundo, Vasto Mundo. E que possamos sempre viajar, pelo mundo, nas leituras, na música, nas artes...

29 de novembro de 2010

Tropa de Elite

A cobertura feita pela mídia, através de imagens espetaculares, mostra aos espectadores entusiasmados, em suas poltronas, que a polícia alida ao exército estão destruindo o narcotráfico. A Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão foram reintegrados. Policias são apresentados como heróis. Os jornais mostram, com exclusividade, uma piscina do subchefe do tráfico do Complexo do Alemão. Surpresa!? Esta informação é recente para todos? Os jornais dizem sobre o luxo da casa. Eletrodomésticos são luxo? Luxo comparado com a miséria dos moradores, em condições sub-humanas, no complexo Alemão.

Algumas perguntas. Os chefes do tráfico moram na favela? Ou pelo menos, no Rio de Janeiro? A perspectiva dos moradores da Vila Cruzeiro e do Complexo Alemão está sendo veiculada, na mídia? Os moradores, que antes eram reféns dos traficantes, se tornarão reféns da polícia? A milícia, parte integrante do narcotráfico, será combatida? A lavagem do dinheiro do narcotráfico será destruída? O dinheiro do narcotráfico será identificado? A matança de "bandidos", pela Polícia Militar, no Rio, que vem ocorrendo nas últimas décadas, vai acabar? Vão ser implantados políticas públicas de educação, saúde, trabalho, lazer e apoio às famílias, nas favelas?

As cenas dos jornais estão sendo entrelaçadas com a do filme, de ação: Tropa de Elite II, do diretor José Padilha. Um exemplo de como o episódio, no Rio, está sendo banalizado, é o jogo criado na internet, "Fuga da Vila Cruzeiro", criado pela Pindorama Games. São utilizadas as imagens, da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro, em direção ao Complexo do Alemão. A violência carioca também foi tema de um aplicativo criado, para o Facebook. A agência de design e publicidade KAUS lançou "War in Rio! Aliste-se!". Mas, ao contrário de "Fuga da Vila Cruzeiro", o internauta não atira em bandidos. O usuário é convidado a lutar contra a violência no Rio ao fazer o upload de uma foto própria e ficar uniformizado com a farda do Bope.

Desculpe Leitor, se faço tantas perguntas e não as respondo.

Deixo como ponto de partida, para as nossas reflexões, a entrevista do antropólogo, Luiz Eduardo Soares, no programa "Roda Viva", e a matéria sobre o morador da Vila Cruzeiro, Ronai Braga, no "Jornal Correio Brasiliense".




14 de novembro de 2010

The Doors

"Para alguns, Jim foi um poeta com a alma presa entre o céu e o inferno. Para outros, ele foi só mais um rockstar que decaiu e acabou queimado. Mas uma coisa é certa, você só pode se queimar, se estiver mexendo com fogo. Seu pai levou dez anos para dizer: meu filho tinha um gênio único que ele expressou sem medo."

O documentário "When you're strange: a film about The Doors" é dirigido por Tom DiCillo e narrado pelo ator Johnny Depp. O filme traz imagens inéditas do vocalista Jim Morrison e da banda The Doors em programas de televisão como o "The Ed Sullivan Show", em apresentações como a do festival inglês "The Isle of Wight" e do famoso concerto em Miami, Flórida, em que Jim Morrison foi preso por atentado ao pudor. Também há imagens feitas por um cinegrafista, amigo de Jim Morrison e do organista Ray Manzarek, dos tempos em que eles estudavam na UCLA (Universidade da Califórnia). Estas imagens foram capturadas em película de 35mm.

Jim Morrison, líder dos The Doors, era apaixonado por cinema e sempre carregava uma câmera para gravar seus momentos. A partir destes arquivos e de outras fontes, o cineasta Tom DiCillo montou o documentário "When You're Strange". Este foi visto pela primeira vez no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro de 2009. Na época, o filme era narrado pelo próprio diretor, que não agradou a plateia com sua fala monótona. Depois das críticas, DiCillo resolveu contratar o ator Johnny Depp para narrar o filme.

A banda The Doors surgiu em 1965. Vendeu mais de oitenta milhões de discos. E ainda vende mais de um milhão de discos por ano. Até hoje Mr. Mojo é objeto de admiração. Os fãs dos anos 60 e 70 o viram como uma figura carismática, inteligente, imprevisível, cujas performances eram teatrais: um teatro ritualístico que descortinava ideias de liberdade e temas sobre a morte, loucura, solidão e outros. Um dos seus encantos era emprestar beleza ao terrível - aquilo que amedronta e atrai simultaneamente.

O Xamã do rock refletiu criativamente sobre a sua arte e, ao memo tempo, espelhou traços da sua natureza. Suas imperfeições, seus medos, seu sofrimento e suas obsessões deram substância a sua arte."Vejo o papel do artista como o de um xamã ou bode expiatório. A pessoas projetam as suas fantasias nele e estas se materializam."

O Rimbaund do Rock engendrou uma forma de encenação no palco que ia além dos seus componentes: música, poesia, dança. " O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento dos sentidos." O Xamã do rock era um jovem que desejava romper os limites da vida. Quando conseguiu esta metamorfose, não sabia o que fazer. Assim como Rimbaund, O Rei Largato sempre procurou se transformar em outra pessoa e sonhava com o "The Other side". O nome que Jim deu a banda tem origem num verso do poeta William Blake: "Se as portas da percepção forem desobstruídas, todas as coisas surgiram diante do homem como verdadeiramente são, infinitas." Jim foi um homem solitário em busca de um paraíso perdido...

Gene Youngblood, no Los Angeles Free Press, resumiu a música da banda: "A música do The Doors é uma música de revolta. Ela fala da loucura que existe dentro de todos nós. É mais surreal do que psicodélica...Morrison é um anjo exterminador."

O poeta William Blake disse: "A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria...A prudência é uma velha, rica e feia solteirona cortejada pela incapacidade." Jim vivenciou estes versos. E morreu por abuso de si mesmo. O seu corpo e sua alma estavam cansados.

O jovem rebelde era excêntrico, almejava liberdade, mudanças, testar os limites da realidade. Seu destino era ser um pária social assim como Rimbaud, William Blake. "Enquanto você prefere chorar, eu prefiro voar ... Quando voltarmos eu te escrevo...Eu sou o Rei largato. Posso fazer o que quiser..."

23 de outubro de 2010

Loki



Loki é o Deus do fogo, da trapaça e travessura, na mitologia nórdica. Também está ligado à magia e pode assumir formas de vários animais - exceto de aves. Loki também é o primeiro disco solo, de Arnaldo Baptista, e é considerado, por muitos, como um dos dez maiores álbuns da música popular brasileiro, um flagrante de sofrimento e dor que impressiona e comove por sua sinceridade.

O documentário Loki, do diretor Paulo Henrique Fontenelle, de 2008, retrata a vida de um dos mais importantes e influentes personagens da música brasileira e mundial e que, infelizmente, nunca teve o reconhecimento merecido. Apresenta depoimentos de diversos artistas, músicos consagrados internacionalmente, amigos e da família. A cinebiografia de Arnaldo Baptista, fundador dos Mutantes, tem sua narrativa costurada por depoimentos emocionantes do artista, enquanto o próprio pinta um quadro emblemático. Os Mutantes são um legado de liberdade.

Em 1980, Arnaldo lançou o segundo álbum solo, “Singin Alone”. Por ironia do destino, em 1982, caminhou até a janela do Hospital do Servidor Publico, em São Paulo, onde estava internado, por causa de uma depressão, quebrou o vidro e pulou do quarto andar atirando-se numa tentativa de suicídio. O músico esqueceu ou sabia que o Deus Loki não podia assumir a forma de uma ave. Resultado do vôo: o músico ficou quase dois meses em estado de coma.

Arnaldo materializou a sua própria arte, música. Experenciou a Balada do louco. "Eu juro que é melhor não ser um normal ... se eu posso pensar que Deus sou eu." O músico fundiu a persona do artista com ele mesmo. Jogou-se de corpo e alma ao ofício de ser um artista. Arnaldo é a personificação da arte.

O que impulsionou Arnaldo para uma arte inovadora, desafiadora que rompeu paradigmas? O descobrimento de si, a busca pelo conhecimento, pela plenitude? O caminho de Arnaldo se fez à custa de erros e descobertas construtivas e artísticas. Parece que foi, no labirinto em que se perdeu, que o músico se encontrou através da arte e do amor de uma fã: sua mulher, Lucinha.

Segundo o maestro Rogério Duprat, Arnaldo Baptsita é responsável por quase tudo que aconteceu, no Brasil, de 67 para cá. Com os Mutantes, o rock ganhou identidade brasileira. Arnaldo deu uma grande contribuição devido a sua liberdade musical, irreverência, competência, ironia, alegria - lembrando que o contexto era a ditadura. Os Mutantes seriam os Beatels sem imitar os Beatles.

Fãs internacionais de Arnaldo, como Kurt Cobain, Sean Lennon e Devendra Banhart – que afirmam que os Mutantes são melhores que os Beatles – também prestam suas homenagens ao ídolo e reiteram a importância de Arnaldo Baptista na história da música, não só no Brasil, mas no mundo. Cada declaração traz histórias curiosas, engraçadas e, em alguns momentos, trágicas sobre o artista e seu tempo.

“Já assisti ao filme várias vezes, perdi a conta. É engraçado porque cada vez me vejo de um jeito diferente. Parece um espelho: às vezes me acho feio e outras, bonito”, diz Arnaldo, no canal Brasil. “Esse filme preenche uma lacuna que só agora percebi que estava faltando. Ele completa minha história.”

20 de outubro de 2010

A barbárie

Primeiro, o incidente onde José Serra foi atingido na cabeça, dia 20. Depois, a reação do Presidente Lula. "A mentira que foi produzida ontem pela equipe de publicidade do candidato José Serra é uma coisa vergonhosa. Ontem deveria ser conhecido como dia da farsa, dia da mentira", disse Lula. (FSP, 21-10-2010). Estes dois fatos aliados aos conflitos e ambivalência desta campanha presidencial fizeram-me refletir sobre a “barbárie”.

O senso comum revela que a barbárie constitui-se de atos de violência extrema contra uma sociedade que se quer ordeira e organizada. Na Grécia e na Roma antiga, considerava-se que todo estrangeiro era bárbaro o que equivalia dizer que era um sujeito rude, inculto e grosseiro, sem o direito de se tornar, um dia, cidadão grego, ou romano.

Os bárbaros só existem por oposição à civilização, e por não compreendê-la, simplesmente a destroem e saqueiam. A barbárie, segundo Jean François, não é algo externo que se afronta ao civilizado mas sim uma face paradoxal à civilização, que vem à tona no momento em que ela se torna arrogante de si. Sendo assim, a barbárie está interiorizada na civilização.

A barbárie se manifesta no mundo contemporâneo, por exemplo, na decadência da educação, na tentativa de ascensão dos regimes autoritários. Guardadas as devidas proporções, poderíamos pensar no descaso do governo para com a educação, na tentativa de se controlar a imprensa que faz oposição.

Ideias como o bem versus o mal, uma cara versus várias caras, a ficha limpa versus a ficha suja, a "corrente do mal", a farsa versus a verdade, "campanha de ódio contra a Dilma", a mistura de preconceitos com o da religiosidade, Deus como aliado político, parecem uma guerra não declarada utilizada com sutileza, mas perversa.

Os atos são apresentados com alta carga de dramaticidade, construídas com slogans que estimulam a ignorância, mas que, infelizmente, são consumidas pelo o senso comum. Tudo isso comandado pelos políticos e os seus assessores comprometidos com os propósitos de poder a qualquer custo, encobrindo os reais motivos da "guerra do terror" que é o retrocesso da democracia.

Vislumbro a barbárie interiorizada em partidos políticos, em assessores, nos políticos ensandecidos com o poder, em defensores e acusadores e nos que se dizem vítimas. Vejo políticos fascinados com as suas próprias imagens, acreditando que o país só crescerá com ou no seu governo. Desse modo, este político não consegue ver o lado sombrio, destrutivo dos seus ideais. Este político não consegue reconhecer o outro, singular, diferente: os 190 milhões de brasileiros.

18 de outubro de 2010

Tergiversando...



Praticamente não houve aprofundamento das propostas dos candidatos Serra, PSDB, e Dilma, PT, pois eles falaram sobre os mesmos assuntos, ontem, no debate, promovido pela FSP em parceira com a Rede TV. O tom agressivo dos dois presidenciáveis, do debate anterior, na Rede Bandeirantes, foi deixado de lado.

Dilma prometeu acabar com o PCC e Serra acredita que a sua ida para o segundo turno propiciou a subida das ações da Petrobrás. Ambos se esqueceram de contar ao telespectador que o atual governo arquitetou a capitalização da Petrobrás emitindo títulos para financiar a campanha do pré-sal e foi possível, pela primeira vez na história do Brasil, usar o FGTS para a compra de ações

"Braços dados, cabeça erguida e coração leve" virou o bordão de Serra. Dilma continua apegada a Deus.( "Se eu for eleita, graças a Deus.) "O polvo paulistano" dito por Dilma arrancou risos dos internautas, assim como "nos óculos do PT, tudo é azul", de Serra. Houve inúmeras manifestações da plateia.

Dilma surpreendentemente não fez menção ao presidente Lula, referia-se ao "nosso governo". Apenas no final, a petista citou Lula e disse que "a esperança vai vencer o ódio". FHC foi citado pela primeira vez por Serra. Dilma voltou inúmeras vezes ao mesmo assunto: privatização. A candidata perdeu muito tempo falando sobre o gás Brasiliano. Seria para irritar o Serra ou por falta do que debater?

Os escândalos só entraram no debate por meio das jornalistas da FSP escaladas para arguir os candidatos. A questão do aborto foi deixada de lado.

A gestão de FHC aplicou o Plano Real com eficiência. O governo Lula deu o salto social por causa da estabilidade que FHC propiciou. Agora, cada um de nós, brasileiros, deve estar se perguntando qual o candidato mais eficaz para dar continuidade ao crescimento do Brasil.

11 de outubro de 2010

Saiu o "trololó" de Serra, entrou o "tergiversar" de Dilma.



No debate da Band, ontem, assistimos aos candidatos Dilma e Serra se atacarem; a responderem mas não a falarem. Poucas propostas foram apresentadas. Nada se disse sobre a educação. Olho com desconfiança os governos que não investem na educação como deveriam. Nós, brasileiros, perdemos a oportunidade de conhecer melhor as propostas dos dois candidatos. Serra e Dilma desperdiçaram a oportunidade de aprofundarem nos seus próprios programas de governo. Ao final, o candidato Serra, PSDB, falou um pouco sobre a sua trajetória. Dilma adotou a tática petista de atacar para não falar.

Qual dois candidatos é o mais adequado? Cada um de nós, brasileiros, vai decidir.

Vejo uma mudança nos dois candidatos, em função da corrida presidencial: ambos adotaram uma postura combativa. Subiram no ringue eleitoreiro, mas e o palanque com as propostas?

"Ainda espero que Serra e Dilma aproveitem a chance generosa que os brasileiros lhes deram. Lamento que os candidatos não tenham percebido o que quase 20 milhões de brasileiros sinalizaram sobre como se deve decidir o futuro do país. Os eleitores continuam sem saber quais são as propostas de Serra e Dilma, quais são suas visões de país e ainda desconhecem suas trajetórias", afirmou Marina Silva, PV. (FSP, 11-10-2010)

Dilma mostrou-se mais irritadiça. Serra manteve-se tranquilo mas respondeu atacando. Ao que parece, segundo a candidata do PT, o país só cresceu com o governo Lula; e durante os dois mandatos de FHC nada foi feito. FHC virou uma fixação dilmística.

Não sei por que, me lembrei de um trecho de "Alice no país das maravilhas", de Lewis Carrol.

"A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.

"Quem é você?", perguntou a Lagarta.

Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então."


PS - O significado de tergiversar é fugir, evadir, escapar.

10 de outubro de 2010

Embaixatriz do samba



Elza Soares dispensa apresentações! Diva na música e vida! De criança pobre a embaixatriz do samba, sua vida é cheia de altos e baixos. E que vida ... Nasceu em uma favela do Rio de Janeiro e, se casou aos doze anos de idade. Viúva aos 18, Elza sofreu com a miséria. Em 2000, foi premiada como "Melhor Cantora do Milênio" pela BBC em Londres.

A primeira vez que Elza subiu em um palco foi em 1953, durante o programa Calouros em Desfile, comandado pelo célebre compositor e radialista Ary Barroso. A vida era dura para a cantora e vencer o programa significava dinheiro para comida - seus 45 kg denunciavam as dificuldades vividas por ela e sua família na época.

Em 1962, Elza começava a brilhar na música brasileira com o sucesso estrondoso de “Se acaso você chegasse”. Garrincha estava no auge de sua carreira no Botafogo e titular incontestável na Seleção. Foi numa apresentação da cantora para a Seleção, quando a delegação se preparava para a Copa do Mundo de 1962 que eles se conheceram. A polêmica relação com o jogador virou repertório da cantora. ("Eu sou a outra", de Ricardo Galeno, e "Amor Impossível", de João Roberto Kelly.)

A cantora pagou um alto preço por seu amor a Garrincha: a vendagem de seus discos caiu drasticamente, shows eram cancelados por questões de segurança, ninguém a contratava. Além disso, o Anjo das Pernas Tortas enfrentou as ameaças por parte do Botafogo que não aceitava seu relacionamento e muitos problemas com dinheiro, durante as várias tentativas de retornar ao seu melhor futebol.


Elza caracteriza sua voz como "bandida", já que diz não fazer grandes esforços para mantê-la. Mas não é só seu rouco que a diferencia das demais intérpretes. Ela tem a malandragem do morro, suingue e gingado que definitivamente não são para todos. Brinca e se vale de ousadia sem medo. Tanto que, nessas de fazer o que bem entende, lá atrás "jazzificou" o samba ao inserir scats ao longo das faixas que cantava. "O scat é muito negro, muito blues, muito jazz", explica a experiente artista. "Comparo o samba ao blues e ao jazz. É o sofrimento do negro, é o açoite, é a angústia, a agonia, é amor demais."(Rolling Stones, setembro de 2010).

8 de outubro de 2010

O Frankenstein e a Dilma



Tenho pensado sobre a história do Frankenstein. Consiste em uma narrativa de terror mas é também divertida e irônica. Vitor tem a obsessão de que as pessoas não precisam morrer. O seu desejo é colocado acima de todos e de tudo. Talvez não tenha pensando nas consequência de trazer ao mundo uma criatura feita de restos de cadáveres. Agiu acima dos limites que a ética impõe ao tentar se fazer de Deus.

Ao contrário do Drácula — aquele seu colega de repartição que vivia se gabando dos antepassados hunos, vikings, saxões e magiares —, o ser criado pelo cientista Victor, num laboratório, em Ingolstadt, não tinha história. Sua dinastia começava com ele.

Tenho pensado que, numa noite de insônia, aterrorizado com a hipótese de perder o poder, o presidente Lula teve a ideia de construir uma candidata, sem trajetória política e sem experiência. "Eu via o espectro de um homem estendido, que, sob a ação de alguma máquina poderosa mostrava sinais de vida e se agitava com um movimento meio-vivo, desajeitado."


A história de Frankenstein aborda, diversos temas, sendo o mais gritante a relação de criatura e criador, com óbvias implicações religiosas. Lula e Dilma não seriam criador e criatura?! E mais: a questão do aborto é polêmica, não só pela pela motivação religiosa, mas por crenças pessoais e interesses políticos; porém está tomando uma dimensão maior do que outros tantos assuntos também pertinentes. Defensora de um plebiscito nacional sobre o aborto, Marina Silva, afirmou que Dilma, "já disse que era favorável depois mudou de posição". Mudou por conveniência pois precisa de votos. “Sempre fui contra o aborto, a favor da vida. Tudo o que eu fiz foi porque acima de tudo acredito na vida." Será que o eleitor brasileiro acredita nesta mudança de opinião? Passado o período eleitoral, o aborto, como questão de saúde pública, será engavetado?

Nós sabemos o que a candidata do PT pensa, quem ela é? Não! Nós sabemos apenas o que o Lula quer. No segundo turno, Dilma resolveu "priorizar" ambiente, imprensa e fé, no seu plano de governo. Iniciou o seu primeiro discurso, agradecendo a Deus. "Deus entrou, definitivamente, na campanha presidencial brasileira". Seu nome, nunca, na história deste país, foi tão clamado pelos dois candidatos pouco carismáticos: Dilma e Serra. Os candidatos se esqueceram que religião é assunto pessoal e não deve fazer parte do debate político. Também estão se esquecendo da importância de se investir em educação.

A candidata do PT apresentada ao eleitor é uma construção da cabeça do presidente Lula que recorreu aos marqueteiros, cirurgiões plásticos, ao personal de moda... Dilma está aprendendo a gesticular com as mãos e a falar em público: ‎"Eu vi.Você, veja. Eu já vi, parei de ver. Voltei a ver e acho que o Neymar e o Ganso tem essa capacidade de fazer a gente olhar." Foi preciso que ela deixasse de ser quem era para "assumir" o lugar de um “outro”. Dilma quer ser presidente da República porque o presidente Lula decidiu.

Marina Silva mostrou a cara e nos fez vislumbrar que é possível governar de uma terceira forma que não seja a do PT e nem a do PSDB. Os quase 20% de votos válidos alcançados por Marina demonstram que o brasileiro anseia por mais ética na política. Segundo a revista britânica "The Economist", a ida de Dilma Rousseff (PT), ao segundo turno da disputa presidencial, mostra que o poder do presidente Lula em transformá-la numa "rainha" tem limites. E que o eleitorado que votou em Marina tende a votar de forma independente.

4 de outubro de 2010

Companheira Dilma, rapadura é doce mas não é mole não!

O segundo turno, na eleição presidencial de 2010, está sendo debatido pela imprensa e pelos 190 milhões de brasileiros. De modo geral, há uma onda verde de alegria pelos quase 20% de votos válidos para a candidata Marina Silva, do PV. PARABÉNS Marina! Você ganhou ganhando! Incorporou à política a participação de uma fatia muito grande da nossa juventude. Marina está sendo disputada por petistas e tucanos de José Serra e o seu apoio deve ser decisivo. Assim como é importante também o apoio de Aécio para a campanha de Serra. A candidata pelo PV afirmou, durante entrevista coletiva em São Paulo, em 4-10-2010, que a decisão do seu apoio e do partido será tomada em uma convenção que, segundo estimou, deverá ocorrer em até 15 dias.



A candidata do PV mostrou-se coerente e firme na sua campanha. Talvez uma contradição da candidata seja ela ser uma eco-capitalista, ou seja, o fato do seu vice ser um dos três co-presidentes do Conselho de Administração e acionista da Natura. Guilherme Leal apareceu como a 463ª pessoa mais rica do mundo e a 13ª do Brasil na lista anual de bilionários da revista americana Forbes - uma fortuna estimada em 2,1 bilhões de dólares. Por outro lado, segundo matéria da Revista Veja, de 17-05-2010, à frente da Natura, uma das maiores empresas de venda direta de cosméticos do Brasil, Leal aplicou políticas de sustentabilidade na linha de produtos utilizando ingredientes renováveis.

Além do crescimento da onda verde, havia a certeza, por parte do PT e das pesquisas de que "nem Jesus Cristo tiraria a vitória de Dilma". A candidata do PT diminuiu o ritmo na reta final. Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, afirmou que Dilma venceria no primeiro turno. (Poder Online, 28-09-2010). As pesquisas da DATAFOLHA, IBOPE, SENSUS e VOX POPULI tentaram convencer a opinião pública de que a candidata do PT era uma campeã de votos e ganharia no primeiro turno.

O PT esqueceu que rapadura é doce mas não é mole não!



Nem a participação do presidente da República que colocou a máquina do governo à disposição da sua candidata foi eficaz. “Não é fácil o rolo compressor do governo. Nunca houve igual na história da República. Como o Lula gosta de dizer, nunca antes nesse país. Nunca neste país nenhum presidente fez tanta pressão para ganhar uma eleição”, afirmou FHC, no Jornal da Tarde, 4-10-2010.

O segundo turno é mais um exercício de democracia para os brasileiros. Consiste também na tentativa do presidente Lula de continuar a construir o seu projeto de poder lulista: a democradura. Nunca, antes nesse país, um presidente desejou tanto que o povo continue subserviente e servilista. As alianças de apoio começam a ser delineadas. Os publicitários estão a todo vapor. Cabe a cada um de nós brasileiros procurar se informar, assistir aos debates, desconstruir discursos, identificar a infantaria de algozes petistas deslumbrados com o poder e votar de acordo com a própria escolha e as convicções, e não de acordo com as "pesquisas".

Companheiro e Companheira, nunca, na história deste país, foi tão importante mudar de ideia...




10 de agosto de 2010

A liberdade de imprensa, no governo Lula

O nome de Dilma Rousselff, como candidata do PT à presidência, foi indicado diretamente pelo presidente Lula que não esconde esta medida autoritária. A candidata do PT não tem experiência eleitoral até este momento. "E eu não sei o que a Dilma pensa, porque ela não fala.", comentou o ex-presidente FHC, na Flip, em Paraty, em 4-8-2010.

Os abusos, por parte do presidente Lula, na campanha, são recorrentes: um lote de sete multas impostas pelo TSE. Quem é o protagonista do PT nesta eleição? O presidente Lula ou a candidata Dilma? Lula estaria inspirado em Fidel Castro na sua permanência no governo? Tanto Dilma quanto Fidel foram guerrilheiros e não hesitaram em pegar em armas para defenderem as suas ideias e nem em maltratar colegas. Dilma seria a Fidel Castro de saia?!

As alianças do atual governo são amplas e, para o espanto dos brasileiros, inclusive com desafetos históricos que foram duramente criticados durante anos pelo presidente Lula, como por exemplo, a família Sarney, o senador Renan Calheiros, o deputado Jader Barbalho e o ex-presidente Fernando Collor.

O ex-presidente Fernando Collor quer voltar, ao governo alagoano, 21 anos após renunciar para concorrer ao Planalto. Para isso, tenta apagar o passado e colar sua imagem na do ex-desafeto Lula e em sua candidata. "Não se esqueçam deste nome: Dilma Rousseff presidenta, número 13 na cabeça! Obrigado, minha gente!" Foi assim, que o senador Fernando Collor (PTB) encerrou comício para cerca de 1.000 pessoas em Feira Grande (AL), a primeira de cinco cidades que visitaria na sexta-feira. "Lula vai encerrar o mandato como o melhor presidente que o Brasil já teve", disse Collor a uma rádio, na quarta-feira. "Sou candidato do presidente Lula, da ministra Dilma e do governo federal."(Folha de São Paulo, de 15-08-2010.)


Após o término da Copa do Mundo, de 2010, a agenda do presidente Lula tem coincidido com a da candidata Dilma. Em um destes "encontros casuais", após a candidata Dilma ser entrevistada pelo JN, no dia 9-08-2010, o presidente Lula em discurso, em BH, afirmou que, "pelo fato de Dilma ser mulher e candidata, o entrevistador tivesse um pouco mais de gentiliza com ela".


Atento Leitor, fico me perguntando se estamos caminhando para uma ditadura lulista onde a imprensa será "acompanhada". Vejamos alguns sinais do desejo do cerceamento à imprensa e liberdade, pelo presidente Lula.

Primeiro: a queda da exigência do diploma para jornalista. Importante ressaltar que foi aprovada, posteriormente, pela comissão especial da Câmara dos Deputados, a PEC que obriga a volta da obrigatoriedade do diploma, em 14-07-2010. O texto aprovado na comissão especial ainda terá de ser votado em dois turnos pelo plenário da Câmara e, depois, pelo Senado. Como é uma PEC, não passa por sanção presidencial. Imprescindível também recordar que, segundo o relator do novo texto, Hugo Leal, "Ser jornalista exige qualificação. A graduação universitária é instrumento imprescindível de qualidade e democratização da informação e do acesso à profissão, não de restrição". O deputado Hugo Leal afirmou também que a nova redação evitará interpretações de inconstitucionalidade.

Segundo: nos pontos polêmicos do Plano de Direitos Humanos, podíamos vislumbrar a proposta do acompanhamento editorial dos veículos de comunicação. A partir do momento, em que se cria uma comissão para controlar os meios de comunicação estamos eliminando a liberdade de imprensa e caminhando para uma ditadura. Este item, assim como, por exemplo, o veto à ostentação de símbolos religiosos em locais públicos, foram retirados. O presidente Lula disse, no dia 12-8-2010, que desistiu de enviar ao Congresso Nacional projeto de consolidação das leis sociais por causa da eleição. Segundo ele, na FSP, as propostas poderiam ser "deformadas" e afirmou que irá esperar a nova composição da Câmara dos Deputados e do Senado para decidir se ainda fará a consolidação.


Terceiro: já virou rotina o presidente Lula afirmar que a imprensa não se interessa por notícias boas. "Não é que a imprensa seja contra nós. De mim não gosta muito, mas notícias boas não têm importância". (FSP, em 12-08-2010). Atento leitor, o presidente Lula deseja uma imprensa engajada em fazer publicidade para o governo. Por ironia do destino, o presidente Lula, a candidata Dilma lutaram contra a ditadura na década de 70, mas hoje, são a favor de uma ditadura na mídia para atender aos interesses dos que estão deslumbrados com o poder. Meu querido leitor, você não acha significativo a proximidade do presidente Lula com inúmeros ditadores. Cito alguns: Hugo Chavez, Fidel Castro...até o Ahmadinejad.

Em 2004, o jornalista Larry Rohter, do "The New York Times", foi correspondente no Brasil e ficou famoso por uma reportagem em que insinuava que o presidente Lula abusava da bebida. O governo tentou expulsá-lo do país, e com isso abrindo uma polêmica sobre o grau de intolerância do presidente com relatos incômodos à sua administração. Na época, segundo o repórter, Lula sugeriu que a reportagem era "encomendada" presumivelmente pela CIA (agência norte-americana de inteligência) para minar o papel de liderança do presidente na formação do G-20 (grupo dos ricos que inclui países emergentes).

Presidente Lula, a liberdade de imprensa não pertence à vontade do governo. É um valor democrático da sociedade, e pressupõe o direito de informar e de ser informado, com precisão e honestidade. A liberdade de imprensa não autoriza a mentira, a distorção, a calúnia. Não dá o direito de omitir fatos e notícias.

31 de julho de 2010

De como não falei mal do João Killer.

O meu amigo João Killer fez um desafio no blog dele. Eu aceitei o “duelo verbal”, só que ao inverso. Não vou falar mal dele, mas vou refletir sobre o fato da Xuxa ter sido uma babá eletrônica inadequada para as crianças. Para a minha sorte, na época, o meu irmão escondia o controle da TV no bolso da calça, para poder sempre escolher a programação. Por isso, eu não assistia ao Xou da Xuxa com frequência.

O programa marcou uma geração. A Xuxa chegava em uma nave cor-de-rosa, que despertava nas crianças o sonho de voar ao lado dela, de consumir comportamentos e cerca de 200 produtos com o nome da apresentadora.

A Rainha dos Baixinhos se tornou uma socializadora para o consumo e a responsável pela erotização precoce dos baixinhos.

A apresentadora entoava para o seu público infantil que era preciso
“QUERER, PODER e CONSEGUIR”, desfilava seu sucesso artístico, produtos e serviços como parte integrante de um mundo de consumo que está ao "alcance" de todos. A utilização dos produtos como detalhe do cenário do programa ou elemento das competições entre as crianças presentes foi bastante eficaz.

Para podermos viver na sociedade industrial é necessário um mito, um herói, que represente os desejos e sonhos de poder que o indivíduo comum nutre e não pode satisfazer. A Indústria Cultural cria padrões comportamentais, símbolos e mitos como, por exemplo, o da Xuxa para que a sociedade tenha em quem se espelhar, assim a controlando, a manipulando e a alienando da realidade em que vive. A alienação não se restringe apenas ao trabalho; ela atinge o consumo e o lazer.

Xuxa com a sua metralhadora giratória de consumo se defendia dos críticos:

“(...) não bebo, não fumo e não me drogo. Nunca vendi meu corpo. Não sei porque dizem que sou um mau exemplo para os Baixinhos” (...) “A televisão é um veículo comercial. Ela vive do anunciante. Merchandising é uma tática de vendas. Todo mundo consome e uma das formas de se medir desenvolvimento é através do padrão de consumo do povo”.

Excessivamente bem paga pelos serviços de babá eletrônica, Xuxa em seu discurso identifica-se e justifica-se através da sua obra: "Um cabaré de crianças".

Vestida com roupas provocantes e rodeada de adolescentes que seguiam seu biótipo, louras, magras e altas, as Paquitas, Xuxa provou que a erotização funcionava bem. A criança se tornou uma devoradora de imagens. Gilberto Felisberto, no livro "O Cabaré das Crianças", lembra que a forma infantilizada da comunicação de Xuxa reveste-se paradoxalmente de um conteúdo adulto: o de provocar a genitália prematura da criançada. Assim, as crianças de oito anos já vivenciam na indumentária - batom, minissaia, minishorts, sandálias de salto alto, brincos, balangandãs - o fim da puberdade. Temos baixinhos com características de adultos e adultos acriançados. As barreiras entre as idades se atenuam e há um denominador comum que é a eterna juventude. Por causa da supervalorização da juventude e beleza a apresentadora pagou o preço de ter que fazer plásticas bem cedo. O mito da felicidade, beleza, perfeição tornou-se o problema da felicidade, beleza e perfeição.

A escola e os pais foram substituídos pelos programas de TV. Na minha opinião, a Rainha dos baixinhos foi uma babá eletrônica inadequada. Nada contra a pessoa da Xuxa. Não a conheço. Estou falando sobre o programa e as suas repercussões. A Rainha dos baixinhos intermediou a industrialização dos sonhos infantis e de marmanjos; vendeu a varejo amores, medos, desejos variados da alma e do coração. Xuxa foi a Pin-up, com minivestido, da década de 80, que entreabriu os lábios para e pelo lucro capitalista; distribuiu beijinhos que também reforçaram a infantilização cultural perversa. Ah, "A arte de ser mulher no meio de tanta gente seduzida pelo gozo sem gozo".

A frustração artística, uma insatisfação crescente da apresentadora só nasceram com a filha Sasha. A partir do nascimento da própria filha, a Loura ditou algumas condições, como por exemplo, em 2002, quando rompeu a parceria com Marelene Matos.
Vocês já viram a Sasha com camisetas babylook, calças de cós baixo mostrando o umbigo, minissaias e shorts minúsculos? Fico pensando que muitas celebridades, no início da sua carreira, fizeram de tudo para alcançar o sucesso. Mas com o passar do tempo, negam alguns fatos do passado, mas nunca o dinheiro e nem o sucesso.

24 de julho de 2010

Ideia Fixa

Leitor, você já teve uma ideia fixa? São Charbel, o livre de ideias fixas pois elas são como chicletes: não desgrudam do pensamento. O Dunga teve a ideia fixa de impor treinamentos quases militares aos jogadores. A imprensa teve a ideia fixa de demonizar o Dunga. A maioria dos brasileiros teve a ideia fixa do Brasil ser Hexa na Copa do Mundo, de 2010. Todos com um chicotinho mental! szchhullzzszszsshilllzz

“Bah, você vai escrever sobre a Era Dunga!? Quem gosta de passado é museu! Fala sobre o Mano Menezes." Impaciente Leitor, já se transcorreu o devido tempo para um distanciamento do “calor das emoções”, da histeria da imprensa e da ira dos 190 milhões de juízes brasileiros. Assim posso perceber que não foram os treinos fechados, a falta de entrevistas exclusivas e nem a falta de treinos-show que derrubaram a seleção. O que fez falta foram as opções de jogo, que só poderiam vir com jogadores que tivessem outro perfil em campo. Uma pena os jogadores e o técnico terem sido recebidos como vilões no Brasil.

Leitor, não fique desapontado. Seja pelo menos um pouco curioso. UM MOMENTO! Concentre-se. Descruze o braço. Deixe a energia fluir.

A forma como a imprensa tratou o Dunga e a reação dos brasileiros mostraram que somos no futebol o que evitamos assumir na vida política: reacionários e covardes.

Dunga involuntariamente personificou a Geni da Copa – guardadas as devidas proporções na comparação. A mídia, de maneira histérica e raivosa, condenou o técnico. A repentina frustração do brasileiro foi canalizada para o gaúcho. Engraçado, não é? Até os romanos (brasileiros) faziam isso: sentados no coliseu (TV), assistiam as feras (jornalistas) estraçalharem inúmeras pessoas (o solitário Dunga) e se divertiam - Um Dunga, onze Sonecas, 190 milhões de Zangados e os efeitos do feitiço diabólico da Rainha.

A ironia é que o zangado Dunga enfrentou a Globo para que os treinos fossem constituídos por mais disciplina e menos espetáculo. O tiro saiu pela culatra. O Casmurro - teimoso, obstinado, cabeçudo - Dunga protagonizou solitário um espetáculo montado pela mídia. Enfrentar a Globo significou, para o gaúcho, o preço de que a opção era ganhar ou ganhar. Para isso teve o apoio popular – 69% de aprovação. Vale a pena lembrar a campanha feita, na internet, de apoio ao técnico: não assistir aos jogos pela Globo.

A seleção brasileira foi desclassificada. Dunga perdeu a seleção, o apoio popular, o apoio do Ricardo Teixeira. Será que a maioria dos brasileiros conhece o Ricardo Teixeira? Por que o Ricardo Teixeira, que contratou o Dunga e o apoiou nestes quase 4 anos, deu uma entrevista em um canal fechado após a eliminação do Brasil na copa, e justamente na emissora que demonizou Dunga?

O casmurro Dunga teve a coragem de fazer enfrentamentos que achou necessários. Optou em não escolher jogadores pop star: Adriano, O Imperador, que esteve envolvido algumas vezes em escândalos; Neymar que está sempre nos programas de TV; (quando sobra tempo para o Neymar treinar?); Ronaldo, o Fenômemo, que está fora de forma; Ganso; Ronaldo Gaúcho.

Dunga poderia ter sido mais cordial com os jornalistas? Sim, com certeza! Mas como ele mesmo disse numa coletiva: “Tenho memória de elefante.” Percebe-se que Dunga frequentemente não gosta das perguntas da imprensa. Suas entrevistas normalmente são um tanto quanto padronizadas. Talvez esta birra com a imprensa tenha se iniciado na copa de 1994, quando Dunga foi Capitão. É importante lembrar que o Casmurro é um homem honesto. "Tenho caráter. O dia em que precisarem me chamar, vão me chamar, porque conhecem minha índole." (Jornal Estadão, 8-07-2010)

No meio desta histeria coletiva liderada pela mídia, pergunto por que sempre temos que ganhar a copa? Por que é tão importante ser o melhor no futebol? Por que ninguém se lembra de que foi o Ricardo Teixeira que escolheu e apoiou o Dunga? O Brasil é campeão 5 vezes. Ser hexa significa o que? Elevar a auto estima do brasileiro?! Dar audiência a Globo pelos espetáculos transmitidos?!

O Brasileiro, de modo geral, como disse o Arnaldo Jabor, em uma crônica, calça a chuteira patriótica numa tentativa de autoafirmação para esquecer a nossa miséria, a corrupção que infelizmente está aliada a política. Por que, nós brasileiros, não podemos ser também patriotas na política?! Vamos torcer para que em 2014 o Mick Jagger, que tem um filho brasileiro, não venha ao Brasil!

O brasileiro e o governo já estão vivendo em função de 2014. Não é a toa que somos o país do futuro e não do presente. Para o salvador da pátria, ops, o treinador de 2014, caberá a missão de elevar a “autoestima do brasileiro”! Ops! Caberá a missão de dar o título de Hexa ao Brasil! Mandela parabenizou os jogadores africanos pelo jogo e disse que, embora não tenham ganhado a Copa, devem manter a cabeça erguida pelo empenho. Aqui, no Brasil, a chegada dos jogadores brasileiros foi marcada por tumulto. Na Argentina, apesar da derrota, os jogadores e o Maradona foram recebidos por uma multidão.

O técnico foi trocado. Os jogadores vão ser outros. Os jornalistas que cobrem a Copa vão ser os mesmos? Atento Leitor, fico me perguntando: Existe autocrítica na imprensa brasileira? Será que é preciso repensar o exercício do jornalismo? Estamos fazendo um jornalismo respeitoso?

Assim como o Dunga é intransigente, zangado, rancoroso, a Globo também é. Esta emissora é fruto do regime militar e herdou também a intransigência deste período. Como explicar a matéria feita, pela Sport TV, sobre o Paraguai que foi retratado de forma preconceituosa e depreciativa? A abordagem foi educada e respeitosa à cultura do Paraguai? A Globo também é rancorosa e é ela que elege quem são as vítimas e os vilões. Será que Tadeu Schmidt estava informando ou manipulando ao ler a carta?

Ah, o espetáculo do futebol brasileiro! O espetáculo é um estado irrevogável da cultura. Com a supremacia das imagens ao vivo, abriu-se uma nova era: A Sociedade do Espetáculo. O espetáculo é uma forma de organização da cultura e das comunicações; é uma urgência imposta. No espetáculo, tudo se destina ao prazer, até mesmo as notícias; a felicidade, o sucesso, a juventude, a beleza viram uma compulsão. Por isso, o espetáculo não pode parar. Cabe à imprensa encontrar meios para compreendê-lo, para informar ao público sobre os mecanismos pelos os quais ele reconfigura a realidade. Cabe ao leitor questionar a verdade veiculada pela mídia. Cabe ao brasileiro se questionar sobre o motivo da importância de ser o melhor no futebol sempre; perceber que a copa ocorre sempre em ano eleitoral e se defender dos efeitos do feitiço diabólico da Rainha.

Observação Indiscreta: Finalizo os rabiscos sobre a minha ideia fixa lembrando que peguei emprestado o apelido de Casmurro, do jornalista Alberto Dines que foi talvez o único que conseguiu fazer uma análise lúcida sobre a histeria da imprensa. Como agradecimento, ofereço-lhe as seguintes palavras do meu amigo Mario de Andrade: "Nós andamos suspirando pela glória. A glória é uma palavra curta em nosso espírito, e significa apenas aplauso e dinheiro. Nós nem queremos ser gloriosos, nós desejamos ser apenas célebres."

18 de julho de 2010

Caso B.

"O Homem é o único animal que se diferencia dos demais por agredir as suas fêmeas."
Jack London


A polícia parece não ter mais dúvidas sobre a morte de Eliza Samudio e os culpados. O indignado delegado Edson Moreira da Silva, de BH, deu detalhes sobre o crime, com direito a olhos marejados. O delegado Moreira que é autor de frases e acusações polêmicas, na investigação do caso Eliza, reclama na Justiça de ser vítima do que classifica como "denuncismo irresponsável". Segundo matéria na FSP, em 14-07-2010, o delegado Moreira é investigado em três inquéritos, em Minas, sob acusação de corrupção, desvio de verbas de diárias e até facilitação de fuga de presos.

A imprensa também já deu o veredicto sobre a morte de Eliza Samudio. A função primária do jornalista é dar aos leitores e espectadores a melhor versão da verdade. Mas como fazer isso em uma época onde prolifera o sensacionalismo, a fofoca e um culto à celebridade e a imediatez? É preciso ter cautela e tempo para se aproximar da realidade dos fatos. É preciso fazer um trabalho investigativo e checar as informações. No Mais Você, do dia 15-07-2010, a mãe do menor envolvido no caso do goleiro Bruno, disse, a Ana Maria Braga, que o filho era usuário de drogas. Ou seja, provavelmente, deve estar com síndrome de abstinência. Isso pode justificar as cinco versões contraditórias do menor que se for preso pega apenas 3 anos de prisão e alivia a situação para os outros envolvidos. O que não se justifica é a crueldade e os detalhes sobre a morte de Eliza.

O espectador curioso sobre notícias de crimes, como o caso do goleiro Bruno, torna-se um "detetive" que tenta decifrar as pistas fornecidas pela mídia e faz julgamentos no meio de um bombardeamento de informações. Hélio Schwartsman, na FSP, em 15-07-2010, comenta que o interesse geral por notícias sobre crimes é o fato do ser humano estar em busca de experiências - de preferência experiências extremas. Como estas situações limites são perigosas temos a opção da simulação para experenciarmos em segurança. Podemos exercitar sentimentos e situações sociais lendo um livro, assistindo a um filme ou lendo um jornal sensacionalista. Uma diferença entre a ficção e as notícias é que os fatos despertam uma empatia maior. No caso do goleiro Bruno, além de ser um fato cruel, trata-se de uma celebridade do futebol. A curiosidade sobre celebridades é uma outra obsessão humana.

Ao escrever sobre o caso Bruno e Eliza, recordo sobre a Maria Islaine (morta em janeiro deste ano, diante de uma câmara de segurança, em Minas), Eloá, a advogada Mércia e outras tantas Marias da Penha. Além das notícias sobre a violência contra mulheres serem um espetáculo na mídia, o que se tem feito de concreto? Segundo o promotor Cembranelli, em entrevista a Ana Maria Braga, em 5-7-2010, a violência contra mulheres e crianças sempre fez parte do universo do tribunal do júri. “Alguns casos têm repercussão maior quando caem na imprensa, mas é algo que sempre aconteceu. Existe um aumento da violência e do número de mortes. O consumo de drogas e o acesso fácil a armas de fogo estão relacionados ao aumento dos homicídios”.

As histórias, sobre a violência contra mulheres, contadas na mídia emendadas uma as outras parecem histórias da Mil e uma noites: intrigam, entretém, e servem como anestésicos. Muitos casos são esquecidos e substituídos por outros mais novos. Há um mês atrás, a imprensa estava focada no desaparecimento da advogada Mércia. Nem ela e nem o suspeito são celebridades como é o caso do jogador do Flamengo, Bruno.
Em agosto de 2 000, o jornalista Pimenta Neves, então diretor do jornal O Estado de S. Paulo, matou com dois tiros a ex-namorada e também jornalista Sandra Gomide, de 31 anos. O crime completou dez anos e Pimenta Neves - réu confesso, julgado e condenado em primeira e segunda instâncias - continua livre.

Ironicamente, mas não desmerecendo a reflexão que é pertinente, o jornal O Estado de S. Paulo, publicou o artigo "Patriarcado da Violência". Neste artigo, em 10--7-2010, a antropóloga Débora Diniz, toca em uma questão praticamente não abordada pela imprensa: por que as mulheres continuam sendo vítimas da violência. O motivo não está apenas nos indivíduos e em suas histórias, mas em uma matriz cultural que tolera a desigualdade entre homens e mulheres, e reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens. A impunidade facilita o surgimento das redes de proteção aos agressores. Elas temem seus companheiros, mas não conseguem escapar desse enredo perverso de sedução. A pergunta óbvia é: por que elas se mantêm nos relacionamentos se temem a violência? O difícil para todas elas é discernir que a violência não é parte necessária da complexidade humana.

Eliza parece se encaixar no perfil de uma boderline. Pessoas com este transtorno são briguentas e se esforçam excessivamente para não serem abandonadas; tiveram uma infância traumática. "Eu te odeio...por favor, não me abandones."

Interessante também observar a lógica moralista e hipócrita pronunciados por homens e inclusive mulheres de que a mulher era merecedora da violência. Eliza era uma “maria chuteira”, “era apenas o sexo pago”. Justificativas como estas reforçam e desnudam o patriarcado da violência; inclusive a decisão da juíza Ana Paula Delduque que negou o pedido de proteção a Eliza, em outubro de 2009. A juíza explicou em sua decisão que Eliza não poderia se beneficiar das medidas protetivas, nem “tentar punir o agressor”, sob pena de banalizar a Lei Maria da Penha. A magistrada entendeu que a finalidade da legislação é proteger a família, seja proveniente de união estável ou de casamento e não de uma relação de caráter eventual e sexual.

Bruno Fernandes foi o terceiro jogador do rubro-negro a protagonizar um caso de polícia nos últimos meses.Todos, segundo a revista Veja, “tratados com a complacência habitualmente reservada aos jogadores famosos pegos em flagrante desvio de conduta”. Depois de citar os casos envolvendo jogadores, a revista conclui: “Diante de tanta naturalidade perante comportamentos que beiram o banditismo, parece natural que alguns craques ajam como vêm agindo - como se estivessem acima da lei.”

No caso de Bruno e Eliza, o crime parece estar envolvido com o reconhecimento da paternidade. Óbvio, é a relação de poder do assassino com a vítima. A violência contra a mulher não apenas persiste, como também se propaga. Os dados sobre a violência contra as mulheres são alarmantes: a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil, segundo o "Portal da violência contra a mulher". Destes casos de agressão, 70% deles ocorrem dentro de casa.

Caro Leitor, faço a Você uma pergunta: Por que o envolvimento de oito suspeitos na morte, com requintes de crueldade e frieza, de Eliza Samudio que não era rica e nem tinha prestígio? Os oito suspeitos são: o goleiro Bruno; o menor J.; o funcionário e amigo macarrão; Bola, o ex policial; o caseiro do sítio, Elenilson da Silva; a ex mulher, Dayanne Rodrigues; a suposta amante Fernanda Gomes Castro; a suposta noiva, Ingrid Oliveira.

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Alguns CRIMES PASSIONAIS que ficaram famosos e estão retratados no livro Paixão no Banco dos Réus, de Luiza Nagib.

Em 1970,o procurador de Justiça Augusto Carlos achou que o professor francês Ives Gentilhomme, que dava aulas para sua esposa, Margot Proença, era seu amante. Margot recebeu 11 facadas do marido e morreu aos 37 anos. Margot era mãe de duas crianças, uma delas Maitê Proença. O procurador não chegou a ser preso e foi absolvido em dois julgamentos. Maitê Proença foi testemunha de defesa e contou que “viu o professor (francês) dormindo no sofá-cama utilizado pela mãe, na manhã seguinte à realização de uma festa em sua casa”. Augusto Carlos casou-se novamente, mas, em 1989, suicidou-se.

Em 1976, Doca Street matou a Pantera de Minas, Ângela Diniz, com 3 tiros no rosto e um na nuca. Ângela teve uma vida marcada por incidentes.(Em 1973, por exemplo, foi acusada de ter assassinado o vigia de sua residência, em Minas Gerais. Mas seu companheiro na época assumiu a culpa, alegando legítima defesa.). Doca alegou “legítima defesa da honra”, por sentir-se traído pela companheira. “Matei por amor.” Em decisão histórica, transmitida pela tevê, Doca foi para a cadeia, no segundo julgamento. Desde então, os crimes passionais passaram a ser julgados com um olhar menos machista.

Em 1981, em um bar, em São Paulo, Lindomar alvejou a ex-mulher Eliana no peito. Eliana e Lindomar se casaram dois anos antes do crime. O cantor era agressivo, ciumento, bebia sem moderação. Quando Eliana foi morta, fazia 20 dias que o desquite havia sido formalizado. Lindomar descobriu que a ex-mulher tinha um caso com seu primo Carlos.

Em 1998, Patrícia Aggio Longo foi assassinada pelo marido, o promotor Igor, quando estava grávida de sete meses. A família da vítima o defende. Igor foi condenado a 16 anos e 4 meses de prisão pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Ficou foragido oito anos antes de ser preso.