31 de julho de 2010

De como não falei mal do João Killer.

O meu amigo João Killer fez um desafio no blog dele. Eu aceitei o “duelo verbal”, só que ao inverso. Não vou falar mal dele, mas vou refletir sobre o fato da Xuxa ter sido uma babá eletrônica inadequada para as crianças. Para a minha sorte, na época, o meu irmão escondia o controle da TV no bolso da calça, para poder sempre escolher a programação. Por isso, eu não assistia ao Xou da Xuxa com frequência.

O programa marcou uma geração. A Xuxa chegava em uma nave cor-de-rosa, que despertava nas crianças o sonho de voar ao lado dela, de consumir comportamentos e cerca de 200 produtos com o nome da apresentadora.

A Rainha dos Baixinhos se tornou uma socializadora para o consumo e a responsável pela erotização precoce dos baixinhos.

A apresentadora entoava para o seu público infantil que era preciso
“QUERER, PODER e CONSEGUIR”, desfilava seu sucesso artístico, produtos e serviços como parte integrante de um mundo de consumo que está ao "alcance" de todos. A utilização dos produtos como detalhe do cenário do programa ou elemento das competições entre as crianças presentes foi bastante eficaz.

Para podermos viver na sociedade industrial é necessário um mito, um herói, que represente os desejos e sonhos de poder que o indivíduo comum nutre e não pode satisfazer. A Indústria Cultural cria padrões comportamentais, símbolos e mitos como, por exemplo, o da Xuxa para que a sociedade tenha em quem se espelhar, assim a controlando, a manipulando e a alienando da realidade em que vive. A alienação não se restringe apenas ao trabalho; ela atinge o consumo e o lazer.

Xuxa com a sua metralhadora giratória de consumo se defendia dos críticos:

“(...) não bebo, não fumo e não me drogo. Nunca vendi meu corpo. Não sei porque dizem que sou um mau exemplo para os Baixinhos” (...) “A televisão é um veículo comercial. Ela vive do anunciante. Merchandising é uma tática de vendas. Todo mundo consome e uma das formas de se medir desenvolvimento é através do padrão de consumo do povo”.

Excessivamente bem paga pelos serviços de babá eletrônica, Xuxa em seu discurso identifica-se e justifica-se através da sua obra: "Um cabaré de crianças".

Vestida com roupas provocantes e rodeada de adolescentes que seguiam seu biótipo, louras, magras e altas, as Paquitas, Xuxa provou que a erotização funcionava bem. A criança se tornou uma devoradora de imagens. Gilberto Felisberto, no livro "O Cabaré das Crianças", lembra que a forma infantilizada da comunicação de Xuxa reveste-se paradoxalmente de um conteúdo adulto: o de provocar a genitália prematura da criançada. Assim, as crianças de oito anos já vivenciam na indumentária - batom, minissaia, minishorts, sandálias de salto alto, brincos, balangandãs - o fim da puberdade. Temos baixinhos com características de adultos e adultos acriançados. As barreiras entre as idades se atenuam e há um denominador comum que é a eterna juventude. Por causa da supervalorização da juventude e beleza a apresentadora pagou o preço de ter que fazer plásticas bem cedo. O mito da felicidade, beleza, perfeição tornou-se o problema da felicidade, beleza e perfeição.

A escola e os pais foram substituídos pelos programas de TV. Na minha opinião, a Rainha dos baixinhos foi uma babá eletrônica inadequada. Nada contra a pessoa da Xuxa. Não a conheço. Estou falando sobre o programa e as suas repercussões. A Rainha dos baixinhos intermediou a industrialização dos sonhos infantis e de marmanjos; vendeu a varejo amores, medos, desejos variados da alma e do coração. Xuxa foi a Pin-up, com minivestido, da década de 80, que entreabriu os lábios para e pelo lucro capitalista; distribuiu beijinhos que também reforçaram a infantilização cultural perversa. Ah, "A arte de ser mulher no meio de tanta gente seduzida pelo gozo sem gozo".

A frustração artística, uma insatisfação crescente da apresentadora só nasceram com a filha Sasha. A partir do nascimento da própria filha, a Loura ditou algumas condições, como por exemplo, em 2002, quando rompeu a parceria com Marelene Matos.
Vocês já viram a Sasha com camisetas babylook, calças de cós baixo mostrando o umbigo, minissaias e shorts minúsculos? Fico pensando que muitas celebridades, no início da sua carreira, fizeram de tudo para alcançar o sucesso. Mas com o passar do tempo, negam alguns fatos do passado, mas nunca o dinheiro e nem o sucesso.

4 comentários:

  1. Excelente texto.
    A Era das apresentadoras infantis (Angélica, Xuxa, Mara Maravilha) acabou.
    Hoje realmente quem manda é o computador. Naquela época, as crianças queriam SEGUIR a Xuxa. Hoje as crianças querem SER a "Xuxa".
    Não importam os meios, todos os meios justificam os fins. Todos querem ser famosos, seguidos e usados como parâmetro (tanto para coisas boas quanto para ruins). Ficar famoso por usar roupas provocativas, aparecer nua ou causar qualquer tipo de polêmica é normal.
    Depois que passa o tempo é que nós vemos com clareza o quão rídiculo era este programa matinal.

    Não mudou muito. Pessoas que aparecem na TV são veneradas, tal como os ex-BBB. Existe coisa mais tosca? Ser fã e idolatrar de uma pessoa que apareceu em um reality show?
    Faltava bom senso naquela época e falta bom senso hoje. Vivemos a realidade do "eu sou mais que você, eu tenho mais do que você". Daqui a 20 anos, vamos sentir vergonha, tal como sente a Xuxa hoje do que um dia ela já foi. As pessoas sentem um imenso vazio que tentam ocupar tentando ser famosas, talvez para se sentirem especiais.

    Sugiro a digníssima autora, como pauta, no futuro, um texto sobre "Reality Shows".

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  2. Dr.Manhattan, agradeço a pertinente sugestão de pauta. Abraço.

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  3. Compartilho do mesmo pensando "...que muitas celebridades, no início da sua carreira, fizeram de tudo para alcançar o sucesso. Mas com o passar do tempo, negam alguns fatos do passado, mas nunca o dinheiro e nem o sucesso." Com certeza a Xuxa não foi e nunca será um bom exemplo pra baixinhos, tanto que hoje ela já perdeu esse espaço pras bandas coloridas, porém durante muitos anos foi um instrumento da Rede Globo de Telealienação. É um pouco deprimente saber que algumas gerações só a tiveram como referencia infantil. Depois falam que a culpa da pedofilia é da internet. Muito obrigado por aceitar meu desafio. Fiquei lisonjeado quando li meu “pseudo” nome aqui. Bom te ler.

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  4. Obrigada, João!
    Bom também ler o http://www.joaokiller.blogspot.com/!

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