23 de maio de 2011

Tempos modernos...

Estamos reunidos em torno de um território virtual em que impera a rapidez, a superficialidade, o excesso de informação, a visibilidade. Utilizamos apenas os sentidos da visão e audição, em detrimento dos demais, para perceber a realidade. E a partir destas percepções, elaboramos nossas noções sobre ela. Perdemos o sentido de proximidade; passamos pelas pessoas, pelos fatos, por nós mesmos sem sermos capazes de nos vincularmos. Vemos milhões de imagens, ouvimos nossas músicas preferidas, assistimos à jornais, filmes, programas, pela TV ou internet. Estamos conectados 24 hs, com todo mundo, em todos os lugares, mas privados do presente. Tudo é para ontem. O futuro assombra o presente.

Lembro-me de uma amiga que não via há alguns anos. Liguei para ela que conversou comigo enquanto acessava a internet simultaneamente. Depois ainda conversando, ela esquentou a sua comida, no microondas, e contou que estava de regime e fazendo ginástica, na hora do almoço. O interfone tocou. Ela atendeu mas, por uns segundos, eu achava que ela ainda conversava comigo. "Querida, adorei conversar com você mas uma amiga acaba de chegar. Preciso desligar."

Almejamos a agilidade, um padrão de beleza imposto pela mídia, a eterna juventude, a perfeição. Perfeição das máquinas? Banimos a morte. Mas, ao fazermos isto, abrimos mão da vida, pois ambas são indissociáveis.

Estamos anestesiados e aterrorizados com a violência. Nos sentimos sobrecarregados. Temos a sensação de que resta pouco tempo para o entretenimento. Trabalhamos para consumir produtos e inclusive a nossa frustração. Curtimos nossos amigos teclando, no link "curtir", no facebook. Sofremos de escassez e excessos. E a nossa solidão intensifica-se.

A agilidade e eficiência exigidas atualmente vão na contramão da contemplação de nós mesmos e das nossas relações. Experienciar o presente é como um ritual de gastronomia: requer tempo, paciência, o entregar-se... o uso do olfato, do paladar. Leitor, quando você for provar um vinho, tome primeiro um pequeno gole. O segundo gole vem após uma pequena pausa. Para preparar melhor o paladar, se quiser, pode mastigar um pedacinho de pão...



Depois de se produzir bens em série, criou-se consumidores em série.

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