29 de maio de 2011

"Filme Socialismo"

Assistir ao "Filme Socialismo", de Godard, é fazer pausas para pensar, decifrar as citações, identificar as fontes de inspiração e é também não entender o significado do asno ou da lhama que aparecem nas imagens. É uma "tentativa de recolocar a realidade na realidade". O filme faz sentido para quem busca sentido. “É preciso ver o filme três vezes: uma pela imagem, uma pelo som e outra para compreender", afirma o diretor Jérôme Plon.

O desejo de Godard de inovar, reinventar formas, reconstruir-se na sua trajetória cinematográfica, ultrapassando a si mesmo, atormenta a maioria dos espectadores. O “Filme Socialismo” não é um produto imediatamente consumível. É preciso uma disposição do espectador para refletir, mastigar, digerir, experimentar. A montagem é conflitiva, o áudio é dissonante, a dramaturgia é anti-diegética e a encenação é des-dramatizante. Há uma enxurrada de citações de diversos pensadores, na boca dos personagens e do narrador em off.

As imagens godardianas não são gratuitas, e nos lembram, por exemplo, do desejo de ser visto, mas da perda das competências necessárias para ver algo além de imagens vazias. "Nem tudo que é visível é legível." As contradições presentes no filme evitam o literalismo interpretativo. Na babel contemporânea, se por um lado, nunca se falou tanto e se mostraram tantas imagens, por outro lado, nunca as pessoas se entenderam ou perceberam tão pouco.

Vemos e ouvimos tudo. Estamos conectados 24 hs. Temos o domínio dos sentidos da distância, mas abrimos mãos dos sentidos da proximidade. O "filme socialismo" é um protesto e também um convite à experiência sensorial.

Aos 80 anos, Godard continua a surpreender!

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