8 de outubro de 2010

O Frankenstein e a Dilma



Tenho pensado sobre a história do Frankenstein. Consiste em uma narrativa de terror mas é também divertida e irônica. Vitor tem a obsessão de que as pessoas não precisam morrer. O seu desejo é colocado acima de todos e de tudo. Talvez não tenha pensando nas consequência de trazer ao mundo uma criatura feita de restos de cadáveres. Agiu acima dos limites que a ética impõe ao tentar se fazer de Deus.

Ao contrário do Drácula — aquele seu colega de repartição que vivia se gabando dos antepassados hunos, vikings, saxões e magiares —, o ser criado pelo cientista Victor, num laboratório, em Ingolstadt, não tinha história. Sua dinastia começava com ele.

Tenho pensado que, numa noite de insônia, aterrorizado com a hipótese de perder o poder, o presidente Lula teve a ideia de construir uma candidata, sem trajetória política e sem experiência. "Eu via o espectro de um homem estendido, que, sob a ação de alguma máquina poderosa mostrava sinais de vida e se agitava com um movimento meio-vivo, desajeitado."


A história de Frankenstein aborda, diversos temas, sendo o mais gritante a relação de criatura e criador, com óbvias implicações religiosas. Lula e Dilma não seriam criador e criatura?! E mais: a questão do aborto é polêmica, não só pela pela motivação religiosa, mas por crenças pessoais e interesses políticos; porém está tomando uma dimensão maior do que outros tantos assuntos também pertinentes. Defensora de um plebiscito nacional sobre o aborto, Marina Silva, afirmou que Dilma, "já disse que era favorável depois mudou de posição". Mudou por conveniência pois precisa de votos. “Sempre fui contra o aborto, a favor da vida. Tudo o que eu fiz foi porque acima de tudo acredito na vida." Será que o eleitor brasileiro acredita nesta mudança de opinião? Passado o período eleitoral, o aborto, como questão de saúde pública, será engavetado?

Nós sabemos o que a candidata do PT pensa, quem ela é? Não! Nós sabemos apenas o que o Lula quer. No segundo turno, Dilma resolveu "priorizar" ambiente, imprensa e fé, no seu plano de governo. Iniciou o seu primeiro discurso, agradecendo a Deus. "Deus entrou, definitivamente, na campanha presidencial brasileira". Seu nome, nunca, na história deste país, foi tão clamado pelos dois candidatos pouco carismáticos: Dilma e Serra. Os candidatos se esqueceram que religião é assunto pessoal e não deve fazer parte do debate político. Também estão se esquecendo da importância de se investir em educação.

A candidata do PT apresentada ao eleitor é uma construção da cabeça do presidente Lula que recorreu aos marqueteiros, cirurgiões plásticos, ao personal de moda... Dilma está aprendendo a gesticular com as mãos e a falar em público: ‎"Eu vi.Você, veja. Eu já vi, parei de ver. Voltei a ver e acho que o Neymar e o Ganso tem essa capacidade de fazer a gente olhar." Foi preciso que ela deixasse de ser quem era para "assumir" o lugar de um “outro”. Dilma quer ser presidente da República porque o presidente Lula decidiu.

Marina Silva mostrou a cara e nos fez vislumbrar que é possível governar de uma terceira forma que não seja a do PT e nem a do PSDB. Os quase 20% de votos válidos alcançados por Marina demonstram que o brasileiro anseia por mais ética na política. Segundo a revista britânica "The Economist", a ida de Dilma Rousseff (PT), ao segundo turno da disputa presidencial, mostra que o poder do presidente Lula em transformá-la numa "rainha" tem limites. E que o eleitorado que votou em Marina tende a votar de forma independente.

11 comentários:

  1. Caríssima autora.

    O mais incrível é que, mesmo o Frankstein sendo um "monstro", ele possui um lado doce e inocente.
    O monstro Dilma já é completamente diferente. Se faz de inocente, mas tem cheiro de sangue nas mãos. Ou alguém acredita que ela nunca assaltou banco ou atirou para matar?
    O Frankstein é o que é e ponto final.
    Talvez ele não queria ser o que é é.
    A Dilma mostra ser uma coisa que não é, porque quer poder.
    Todos os comunistas que chegaram ao poder fizeram pior do que os ditadores que se opunham.
    A CNN a retrata como "uma guerrilheira marxista". Eu prefiro pensar que ela é o Fidel Castro de saias. Só falta a barba e o charuto.

    Parabéns por mais um texto fascinante.

    Dr. Manhattan

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  2. Olá Dr. Manhattan!
    Obrigada!
    Na história do Frankenstein, criador e criatura alternam no papel de vítima e vilão.
    Gostaria de ressaltar que interesso-me apenas pela pessoa pública da Dilma. Infelizmente, tenho percebido que, muitas vezes, as pessoas levam para o lado pessoal quando se deparam com opiniões diferentes. Não estou falando que é o seu caso, de forma alguma. Mas ao ver que você usou a palavra "monstro", me passou isso pela cabeça.
    Dá para perceber que realmente a candidata Dilma renega o seu passado de luta armada. Há queixas também de colegas da petista sobre mal tratos, segundo debate na Globo, no primeiro turno.
    Um abraço

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  3. Chalita,

    Parabéns por mais esse texto brilhante. vc retrata a realidade que vivemos nessa eleição, no qual não temos candidatos apresentaveis de idéias e atitudes, para assumirem tal cargo e representar o Brasil. Eu anseio por uma mulher na presidência, mas não é o caso de Dilma, que não mostrou propostas e não acredito que tenha capacidade para gerir um país... Ela na verdade é apenas uma marionete que se acha...

    Bjo e parabéns!!!

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  4. Olá amiga!!!
    Adorei os textos sobre a Dilma e o PT! O problema é que num pais onde a maioria dos eleitores não tem acesso a internet e outros meios de informação, onde se possa ver realmente a história dos seus candidatos, o que vale mesmo são as bolsas famílias, que não passam de um esquema de compra de votos dos menos esclarecidos. Mas vamos fazendo a nossa parte com a esperança de que um dia o Brasil vai mudar.
    Um grande abraço,
    Carla

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  5. Minha filha, mulher não dá certo nem dirigindo um carro. Imagine dirigindo um país!

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  6. Oi Gra!
    Obrigada!
    Acho que, independente de ser mulher ou homem, o próximo Presidente da República deve ser adequado e preparado para esta função. No programa do segundo turno, na TV, deu para ver que ela está focando no fato de ser mulher, inclusive avó. O que uma coisa tem haver com a outra? Está enlaçando qualquer e toda aliança para se eleger; inclusive com a família, Deus. Até uma corrente do mal está sendo combatida pelo PT. Cada um de nós entende Deus de uma forma e também há os que não acreditam em Deus. Isso é liberdade. Cada um de nós constitui uma família de forma diferente ou opta em ser só. Isso é liberdade. O Mal! O que é a tal corrente do mal? É uma opinião que contraria o que o presidente Lula deseja!
    O programa eleitoral, do segundo turno, me lembra histórias de terror da idade média...Nós brasileiros estamos sendo tratados como se fossemos ignorantes e sem informação. O Presidente Lula continua se achando uma vítima...Uma vítima do deslumbramento do PT pelo poder a qualquer preço.
    Lamentável e vergonhoso para a democracia estas histórias da idade média!
    Beijo

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  7. Machão Alemão.

    Em consideração ao fato de eu acreditar que ‎"Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las", estou publicando o seu comentário.
    Acho contraditório o teu comentário já que escolheu o blog de uma mulher para postar comentário.
    Aproveito a oportunidade para esclarecer que os comentários serão publicados desde que não sejam ofensivos.

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  8. Oi Carla!
    Acredito que promovermos o debate e a reflexão seja uma forma de contribuição para o exercício da democracia.
    Concordo com Vc sobre a falta de informação da maioria dos brasileiros que não tem acesso nem aos seus direitos básicos enquanto cidadãos, como moradia, educação, saúde, lazer e entre outros, quanto mais acesso a internet para se informar.
    Lamentável que Deus, a família e a ideia de combater o mal tenham virados companheiros, na política, da candidata Dilma e do presidente Lula.
    Um abraço

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  9. "Deus é grande demais para ser enfiado num míssil nuclear. Ou enlatado pelo marketing político."

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=610JDB025

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  10. Comentário 1 do texto "O Frankenstein, a Dilma e as rugas"

    Ei Cláudia, quanta saudade!!!
    Aceitando seu convite de te seguir nesse blog (ai de mim se não o aceitasse, rsss...) me surpreendi com sua análise da Dilma candidata.
    Vc sempre foi e será uma mulher de opiniões fortes e coerentes com seus pensamentos, não se deixando influenciar por correntes políticas ou pelos absurdos publicados por editores de jornais e revistas escravizados pelos donos da mídia.
    Antecipo que não farei uma apologia em favor de candidato A ou B, mas peço que beba de várias fontes e faça uma análise do todo e não só da parte.
    Como vc sabe, também sou um cara de opiniões fortes e convicções idem.
    Por isso, apesar de concordar com algumas partes do seu texto, discordo de suas conclusões e comparações.
    As acusações e conclusões emanadas aos quatros ventos pela imprensa tupiniquim a respeito da candidata Dilma, obtidas a partir de seu passado de guerrilheira, ou pelo fato de ser uma pessoa que nunca se elegeu para nada antes ou que não tem experiência para governar refletem uma análise rasa e preconceituosa da situação.
    Pergunto: Qual é o curso superior, de mestrado ou doutorado que prepara uma pessoa para ser presidente de um país? Qual experiência profissional anterior deve ser exigida para se candidatar ao cargo? É obrigatório que seja maniqueísta, que tenha uma visão rasa e simplista de coisas absolutamente importantes e complexas como, por exemplo, o aborto? É obrigatório que seja desprovido de vaidade, mesmo sendo mulher, o que, por si só, já seria uma impossibilidade existencial? É obrigatório que tenha um cabedal, de que natureza eu não sei, para pleitear-se candidato?
    Por fim, o que precisa uma pessoa ter em seu currículo para ser presidente desse país?
    Olhando o retrospecto de nossos presidentes e olhando para nossas necessidades como país desconfio que precisaríamos sim de um Dr. Frankenstein para criar o indivíduo perfeito para o cargo. O Lula, nem qualquer outra pessoa vivente, teria competência para criar tal monstro, pois é isso que esse indivíduo seria, um ser irreal, desprovido de experiências anteriores, de sentimentos baseados em vivências sofridas e alegres, um autômato com capacidade sabe-se lá para fazer o quê com aqueles que estão abaixo de sua máxima competência.
    Mais uma vez, não tomo partido de A ou de B publicamente, só não quero que a mídia, a Igreja (já corcunda de tantos pecados praticados durante sua história, incluindo os dias atuais - o que será que eles fizeram com aquele maravilhoso dito de Cristo: "Não aponte o cisco no olho do teu irmão enquanto não tirar a trave do teu."), e os maniqueístas digam como devo pensar.
    Cada uma das coisas ditas nos textos acima sobre A pode encontrar sua respectiva imagem refletida em B, basta QUERER encontrar... Será que queremos?
    Me desculpe pelo comentário longo, mas o que a imprensa anda fazendo nessa eleição supera tudo que eu já vi no passado...
    Beijos e apareça....
    Rodrigo.

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  11. Oi Rodrigo!
    Realmente, aí de você se não participasse do Realidade.rsrs
    Respeito os seus argumentos embora não concorde com alguns deles.
    Imprensa Tupiniquin?
    O presidente Lula acha que a função da imprensa é fazer publicidade do seu governo. Tem a ideia equivocada de que a liberdade de imprensa pertence à vontade do governo.
    Incomodado pelas denúncias de corrupção do seu governo feita pela imprensa eis que coincidentemente cai a exigência do diploma para jornalista.
    Nos pontos polêmicos do Plano de Direitos Humanos, podíamos vislumbrar a proposta do acompanhamento editorial dos veículos de comunicação.
    Em 2004, o governo tentou expulsar, do país, o jornalista Larry Rohter, do "The New York Times", e com isso abrindo uma polêmica sobre o grau de intolerância do presidente com relatos incômodos à sua administração.
    Durante estes últimos anos, o Presidente Lula deu inúmeras mostras de não saber lidar com a liberdade de imprensa e democracia. Para ele, tudo se resume em um inimigo público que deve ser combatido: a diversidade. Eles agem como se estivessem ainda em um ditadura e inclusive querem poder, custe o que custar. Quando o Presidente Lula é contrariado, assume o papel de vítima. Ou: existe uma “corrente do mal” tentando prejudicar o PT. Lamentável que Deus, e a ideia de combater o mal, tenham virados companheiros, na política, da candidata Dilma e do presidente Lula.
    Experiência para governar ?
    Acredito que, para um cargo de presidente do país, governar não seja um trabalho para principiantes. Um alpinista não começa sua trajetória escalando o monte Everest. É preciso adquirir experiência para chegar ao topo da montanha.
    O presidente Lula está empenhado em construir o seu projeto de poder lulista: a democradura. Para isto, as alianças do atual governo são amplas e, para o espanto dos brasileiros, inclusive com desafetos históricos que foram duramente criticados durante anos pelo presidente Lula, como por exemplo, a família Sarney, o senador Renan Calheiros, o deputado Jader Barbalho e o ex-presidente Fernando Collor.
    Talvez nenhum dos dois sejam adequados mas o Serra tem uma trajetória e pensa por si mesmo embora seja autoritário e intransigente. Acho que a candidata Dilma começou a se mostrar no debate da Band, neste segundo turno: atacou para não debater. Reconheço os avanços feitos pelo governo do PT mas admito também as realizações do governo FHC. Se um ET viesse ao Brasil por uma semana e fosse assistir aos noticiários, acharia equivocadamente que o Brasil só começou a crescer no governo Lula.
    Numa democracia tem que ocorrer alternância de poder. Acho que o PT será mais útil, à nação brasileira, fiscalizando o próximo governo.
    Gostaria de agradecer a Vc a oportunidade de iniciar um debate. Muitas vezes, as pessoas acham que participar de um blog significa necessariamente concordar com as ideias apresentadas. Debater é inclusive questionar e discordar desde que apresentando argumentos.

    Beijo
    PS - Saudade das montanhas de Minas...

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